ESQUERDA FRANCESA DESBOSSULADA
Aproximam-se as
eleições primárias no PS, para escolher o candidato que irá confrontar o
concorrente da direita, François Fillon, e/ou da extrema direita, Marine Le Pen.
Após uma legislatura frustrante para o universo de esquerda, protagonizada por
François Hollande, com a assunção de políticas claramente antipopulares, eis
que 4 candidatos do PSF se apresentam nesta primeira fase:
Manuel Valls,
ex-primeiro-ministro de Hollande, Benoît Hamon, ministro de 2012 a 2014, com as
pastas de ministro delegado para a Economia Social e Solidária e mais tarde,
ministro da Educação Nacional e do Ensino Superior, Vincent Peillon, ministro
da Educação, ambos no governo Ayrault (que Valls acabou por substituir, em
2014) e, finalmente, Arnaud Montebourg que deteve a pasta da Economia, da Recuperação
Produtiva e do Numérico do 1º governo Valls, en 2014, não tendo sido
reconduzido na 2ª parte do mesmo governo.
Os socialistas e eleitores de esquerda
inscritos escolherão um destes 4 socialistas, já na 1ª volta das primárias, ou na 2ª volta,
se nenhum alcançar a maioria absoluta. Será o candidato oficial do PSF,
às eleições presidenciais.
A disputar o
eleitorado mais moderado do PSF e da direita, concorre Emmanuel Macron,
«ex-menino bonito», e depois traidor, de Hollande; por seu lado, Jean-Luc Mélenchon do «Parti de Gauche», mais
uma vez vai procurar obter uma votação à esquerda que bata o candidato socialista.
Resta ainda o eterno partido centrista de François Bayrou, ensanduichado entre
o candidato de direita, Fillon, e Macron: ambos reclamam a preferência do mesmo
segmento de eleitorado.
Ainda se apresentarão outros candidatos dos Verdes, dos Radicais e, provavelmente, da extrema-esquerda.
Para o PSF, que em
2012 conseguira fazer eleger Hollande contra o poderosíssimo Sarkozy, o cenário
não poderia ser mais sombrio. Hollande, não só desbaratou o apoio popular, como
fragmentou o seu próprio partido, descaracterizando-o política e
ideologicamente, não só devido às políticas de direita que adotou, quer
internamente, quer no seio da União Europeia, como à ausência de debate
político interno.
No terreno europeu,
Hollande foi um quase sempre um seguidor da Sra Merkel, alinhando com medidas de estrangulamento
económico e financeiro da Grécia, pilotou uma visão estreita nos conflitos do Médio Oriente e foi incapaz de monitorizar uma política de razoabilidade no
caso dos refugiados.
Internamente, mediou
políticas sociais restritivas, impôs um conjunto de leis laborais penalizadoras
e enveredou pela aplicação de medidas securitárias de duvidosa eficácia.
A perda identitária do
PSF, bem como de todos os partidos seus irmãos, tem vindo a
ser tanto mais penalizadora para o povo europeu, quanto mais se foram afastando da
sua matriz socialista.
Os resultados
eleitorais em França, mas também a forma como o PSOE vai sair do atoleiro em
que se encontra, deverão ser seguidos atentamente pelos portugueses. Encontrada
uma solução estável para esta legislatura, urgente se torna a abertura de uma
agenda política mais aprofundada, onde constem temáticas inovadoras e vias de
sobrevivência.
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