domingo, 9 de julho de 2017


Incendios forestales 'Súperincendios': así es el nuevo fenómeno
 que desafía a la estrategia contra el fuego

Son más grandes, más numerosos, más imprevisibles e ingobernables y afectan a más población. WWF advierte de que la actual estrategia basada en la extinción no servirá para combatirlos y apremia a invertir en prevención.



LUCÍA VILLA

Los incendios están evolucionando. Es algo sobre lo que se viene advirtiendo desde el ámbito científico, técnico y ecologista desde hace un tiempo, y que también se confirma en España a tenor de los datos disponibles sobre incendios de las últimas dos décadas. Hace 20 años había más incendios y se quemaba mayor superficie que ahora, pero el cambio climático, el paulatino abandono de los bosques y el caos territorial y urbanístico han hecho que cada vez sean más frecuentes los grandes incendios (de más de 500 hectáreas), que además son cada vez más grandes, ingobernables y afectan a mayor población.
Son los denominados superincendios, como el que ha quemado hace escasos días más de 8.000 hectáreas del parque de Doñana; o el que arrasó unas semanas antes el centro de Portugal, dejando más de 60 muertos. Según se recoge en el informe anual sobre incendios forestalespresentado este miércoles por la organización WWF, en España este tipo de siniestros suponían el 27% del total de la superficie quemada hace dos décadas, mientras que hoy ya suponen, de media, el 37%. En 2016, un año con muy pocos daños por incendios, la mitad de las hectáreas arrasadas se quemaron en este tipo de grandes siniestros.
“Que los grandes incendios tengan cada vez mayor presencia indica que el fuego cada vez encuentra un entorno más favorable para su propagación”, ha señalado Lourdes Hernández, autora del informe.
La organización ecologista explica cómo, por un lado, el cambio climático está cambiando el comportamiento de los bosques, haciendo que se den en invierno incendios que eran típicos del verano y alargando la temporada de riesgo de incendios a la práctica totalidad del año. Por otro, la despoblación de los espacios rurales ha convertido a los bosques en lugares semiabandonados, donde no existen actividades como el pastoreo, el aprovechamiento maderero o de resina, que ayudaban a mantener el monte limpio.
Por último, el informe pone el acento en las nuevas urbanizaciones y desarrollos periurbanosconstruidos al albor de la burbuja inmobiliaria en plenas áreas forestales. En un estudio realizado en el año 2000, se estimó que existen en España aproximadamente 1,1 millones de hectáreas en estas zonas, que son de elevado riesgo de incendio y que, además, han obligado a cambiar la estrategia de los servicios de extinción, centrándose en salvar vidas humanas y no en atacar el fuego forestal. De hecho, en 2015, el número de evacuaciones por incendios fue un 40% superior a diez años antes. Sucede además que el 90% de estas urbanizaciones no cuenta con un plan de autoprotección, a pesar de que la normativa lo exige.

Todo ello contribuye a un "cóctel letal" que ha transformado al fuego haciéndolo más difícil de combatir y a veces, imposible de extinguir sólo con medios humanos.

No estamos preparados

“Hace unas décadas, los incendios tenían un comportamiento relativamente fácil de abordar, pero en los últimos años hemos metido demasiados factores en la ecuación. Ahora son incendios explosivos, con múltiples focos e imprevisibles. Ante este panorama, la apuesta por los medios de extinción no es suficiente”, ha advertido Hernández.
“Hay que cambiar la forma en que afrontamos los incendios. El modelo de los años 90 ya no sirve”, ha añadido el director de conservación de WWF, Enrique Segovia.
Ese es uno de los puntos clave sobre el que advierten también otras asociaciones. España cuenta con un muy buen dispositivo de extinción de incendios, dotado de grandes medios técnicos y humanos; pero suspende en prevención. Un estudio del Colegio Oficial de Ingenieros de Montes estimó que España se gastaba al año unos mil millones de euros al año en extinción, frente a los 300 millones para prevención, una partida afectada además por los recortes de la crisis. Antes, el monto ascendía a los 600 millones de euros.
“Los grandes incendios no se apagan con agua, sino con gestión forestal y planificación territorial. Solo reduciendo la vulnerabilidad del paisaje a la propagación de las llamas evitaremos que los GIF (grandes incendios forestales) devoren comarcas enteras”, señala el informe.

Frente a esta situación, WWF ha solicitado a las administraciones cuatro medidas: conocer el riesgo de incendios a través de la elaboración de mapas; planificar el territorio para eliminar las construcciones ilegales e impedir que se levanten otras nuevas en zonas de riesgo; gestionar los bosques para minimizar el riesgo e informar a las poblaciones sobre la nueva situación.

(Artigo publicado no jornal espanhol Publico)

WWF - O World Wide Found for Nature

domingo, 2 de julho de 2017

OS SUPER-RICOS ABANDONAM O MUNDO





Por que razão o clima interessa tão pouco aos nossos dirigentes? O filósofo Bruno Latour apresenta uma hipótese radical: as classes dominantes têm consciência da ameaça ecológica, mas calam-se. E preferem construir um futuro fora do mundo comum.

(Extrato da Entrevista conduzida por Éric Aeschimann e  Xavier  De La Porte, para L’OBS nº 2732, 16-22 de março de 2017)


Resultado de imagem para BRUNO LATOURA campanha para a eleição presidencial está ao rubro, e e a questão climática está claramente ausente nos três candidatos mais bem classificados nas sondagens: Marine Le Pen, François Fillon e, menorizada em Emmanuel Macron. O senhor, que há 10 anos reflete, no âmbito das Ciências Políticas (Sciences-Po), a necessidade de transformar o ambiente num verdadeiro desafio político, como explica tão grande silêncio?

 O erro está em falarmos de «clima». O termo evoca algo demasiado  longínquo, com o qual não temos de nos preocupar. Seria necessário dar-lhe uma definição mais próxima, e ligá-lo às noções de território e de solo. Os ecologistas ocupam-se do ambiente como se se tratasse de um objeto exterior à política. Não se sentem nada bem a casar o político com aquilo a que eles chamam «natureza», se bem que o político seja feito, desde sempre, de questões de território, de solo, de recursos, de trigo, de cidade, de água. Na realidade, a política é ecológica, por definição. Esse silêncio é, tanto mais chocante, quanto todos sabemos que a globalização já não é sustentável. Age-se como se fosse possível continuar a modernização e como se a Terra pudesse suportá-la. Ora, já não há, nem espaços, nem recursos que correspondam a esse projeto político. Seriam precisas cinco ou seis Terras como a nossa. A consequência política que vemos operar no campo francês, como noutros sítios do planeta é o fechamento sobre o Estado-nação. Devolvam -nos a Polónia, diz o PiS [1]. Devolvam-nos a Itália, diz a Liga do Norte. Devolvam-nos nos a Índia, diz Modi, primeiro-ministro indiano. Devolvam nos a América, diz Trump. O raciocínio repete-se; se é verdade que já não há espaço para uma globalização para todos, então regresse cada um a sua casa. Mas a rutura mais extraordinária é o Brexit. A Inglaterra, essa pequena ilha sem recursos, que, em 1820, abandonou a ideia de alimentar o seu povo, que impôs à Europa a versão mais globalizada do mercado… decide regressar à sua condição de ilha. Em termos históricos, é uma regressão fascinante. E  também não é uma idiotice.


Acha que os partidários do Brexit têm razão?

Em termos absolutos, estão errados. Mas devemos compreender os que acabam por dizer: «Já que nos abandonaram e traíram, ao menos restituam-nos o nosso Estado-nação.»


Quem os traiu? As classes poderosas?

Uma hipótese, para a qual não possuo a prova, apenas alguns indícios: num determinado momento, algures em finais de 1970, ou no início de 1980, os membros mais astuciosos das classes dominantes compreenderam que a globalização não era ecologicamente sustentável. Mas, em vez de alterarem o modelo económico, decidiram  renunciar à ideia de um mundo comum. Daí, o lançamento de políticas desreguladoras que provocaram as desigualdades alucinantes que conhecemos hoje. Essa brutalidade económica -  multiplicada por uma brutalização de expressão política – é um modo de dizer às outras classes: «Lamentamos, boa gente,  mas renunciámos a fazer um mundo comum convosco.» Ao separar-se do mundo, a classe dominante imunizou-se contra a questão ecológica. O meu colega Dominique Pestre[2]  mostrou como, a partir de 1970, após o apelo do Clube de Roma sobre o futuro do planeta, os economistas da OCDE negaram, ou pelo menos minimizaram, a questão dos limites ecológicos.  Quanto a mim, o nível atual das desigualdades só pode compreender-se se o inscrevermos num projeto global em que se admite que não é toda a gente  que poderá desenvolver-se, um mundo em que os ricos concentram lucros desmesurados e se retiram para o seu gated community. Um artigo recente do «New Yorker»  mostra como os multimilionários se preparam para viver depois da catástrofe. Compram terras e constroem abrigos luxuosos nos três sítios que serão menos impactados pela transformação climática: a Nova-Zelândia, a Terra do Fogo e Kamchatka. Outrora, a  mania da sobrevivência era coisa de totós fardados. Hoje, são os super-ricos que abandonam o mundo. Face a isto, não é de espantar que os povos digam: «Se a globalização não é o nosso horizonte comum, dêem-nos, ao menos, um bote salva-vidas.» E o primeiro bote que aparece é o Estado-nação.


Certos políticos falariam de populismo, mas o senhor, não. Porquê?

«Populismo» é um termo acusatório, que nada descreve. É utilizado para não se refletir sobre as boas razões  pelas quais as pessoas desconfiam, para não ver os dramas por que já passaram. Pediram-se-lhes enormes sacrifícios em nome da mundialização. Foram obrigadas a abrir mão das suas proteções em troca de benefícios que nunca chegaram. A acusação de populismo é dramática. Não é absurdo querer ser protegido, o que não faz de ninguém ser de direita.


Como analisa o fenómeno Trump?

Historicamente, os Estados Unidos da América são o segundo país, atrás da Inglaterra, a terem beneficiado amplamente da globalização.  É especialmente sintomático  que eles tenham elegido Donald Trump justamente a seguir ao Brexit, dizendo ao resto do planeta:  «construímos muros, o resto do mundo não é problema nosso.» Trump é curioso porque ele recua no tempo («Make America great again.»), ao mesmo tempo que prolonga o sonho de globalização, mas unicamente à escala de um país, ou até  metade do seu país). Desde que tomou posse, de que se ocupou? Arrasou as montanhas dos Apalaches para retirar o carvão.  Esse sonho de uma globalização para um grupo restrito apoia-se na conceção da economia que já não é industrial, nem mesmo a finança, mas uma mescla de imobiliário e de telerrealidade: construir arranha-céus, viver em cenários artificiais.


Devemos ver nisso uma relação particular que Donald Trump estabelece com os factos e com a verdade científica?

É possível estabelecer um elo entre o apetite de Trump pelos «factos alternativos» e a negação da crise climática. Em 1992, Bush afirmara que o modo de vida americano não era negociável. Trump atravessa uma etapa suplementar ao recusar aceitar a responsabilidade humana nas mudanças climáticas. A minha hipótese é que não poderia sustentar nenhuma das suas promessas sem essa negação. Daí, um governo inteiramente climático-negacionista, em que o representante da Exxon é o único que tem uma vaga consciência  de que há um problema. Consequentemente, a «pós-verdade»: para imaginar que o American way of life pode desenvolver-se amanhã, como ontem, é preciso ter, digamos,  um conceito particular de verdade.


E a ideia de que o trumpismo poderia ser um fascismo?

Provavelmente, há no trumpismo uma componente fascista, no sentido corrente do termo, em torno da tentação autoritária. Mas a comparação fica-se por aqui. O fascismo era uma invenção original que conseguiu fazer crer, durante um certo tempo que se podia arcaizar e modernizar ao mesmo tempo. Os  europeus aprenderam pela própria história a entender e a criticar esse cruzamento impossível. Trump é uma invenção muito mais difícil de descodificar. De que modo atribuir a multimilionários a tarefa de proteger a classe média, ao mesmo tempo que faz desaparecer o Estado-Providência? O fascismo defendia o Estado total, Trump quer «desconstruir» o Estado federal. O absurdo da sua solução ver-se-ia, não fora o negacionismo ecológico. Num certo sentido, ele é mais perverso que o fascismo.


O que Trump propõe já existe – com Erdogan na Turquia e Putin na Rússia -, ou trata-se de algo radicalmente diferente?

Há um espírito do tempo que consiste em dizer: se os problemas que temos pela frente, tais como o clima as migrações ou a finança, com os cientistasultrapassam as competências dos Estados-nação, regressemos aos Estados-nação. È uma total contradição. Não queremos admitir que pertencemos, não a um Estado-nação, mas a uma terra comum, cujos componentes têm de ser avaliados. Mas o facto é que tudo é sustentado pela negação das ciências, negação essa que existe também na Rússia e noutros lados.


Vê alguma tradução no debate político francês?

A França continua com a clássica divisão direita-esquerda. Ora, a questão ecológica só pode ser colocada se esta clivagem for ultrapassada, sem contudo se cair num «nem direita, nem esquerda»,
(…)


Se o Estado-nação não é a escala adequada para alterar radicalmente a nossa pertença ao solo, qual é a boa?

A nossa chance é a Europa. A Europa é o lugar que abandonou os sonhos imperiais e ultrapassou o Estado-nação. Trata-se da experiência mais avançada do ponto de vista da inovação política.


Não é essa a impressão que muitas vezes dá…

Para uma instituição transnacional, Bruxelas não funciona assim tão mal. Mas, temos ainda a Europa a que pertencemos, a Europa-pátria. É sob este ângulo que devemos encarar a questão dos migrantes, por exemplo. Nós, Europeus, estamos em migração no nosso próprio solo. Por exemplo, pertenço a uma família de negociantes de vinho. As alterações climáticas obrigam-nos a procurar outros lugares para plantar as vinhas, a fazer o borgonha fora da Borgonha. A minha família migra e compra novas terras; e o mesmo se passa com muitas outras empresas pelo mundo fora. Não estou a comparar isto com a tragédia dos que atravessam o Mediterrâneo numa barcaça pneumática. Mas em ambos os casos existe o fermento de uma fraternidade necessária com os migrantes. A Europa julga-se ainda como se fosse uma fortaleza, na verdade não passa de um refúgio.


Não é esse o caminho que está a seguir…

Em termos institucionais, está muito mais avançada que o Estado-nação. Muito mais inteligente, subtil, cheia de possibilidades, de direitos, de invenções. As invenções jurídicas, a moralização da vida política, a organização da atividade científica foi ela que no-las ensinou. É preciso ser inglês para o esquecer. É verdade que a Europa não se concebe como solo. Há pouco, vi, em Florença, a primeira bandeira europeia. Com seis estrelas, duas listas horizontais – uma negra, outra azul -  significando o carvão e o aço. À saída da guerra, soubemos fazer a Europa a partir de baixo, isto é, do carvão e do aço. Hoje, é preciso refazer a Europa a partir do solo. Temos a sorte de ter ultrapassado o problema da soberania, temos uma consciência histórica da nossa responsabilidade, possuímos territórios incríveis, diversos, múltiplos, temos cidades. A pátria europeia tem um enorme poder mítico e uma rara solidez científica e ecológica. Surpreende-me imenso que os candidatos à eleição presidencial quase nunca falem disto.


Onde vê os germes da esperança?

Há exemplos, por todo o lado, desde o filme «Amanhã» até aos Amap [associações de defesa de uma agricultura camponesa, n. da red.], e outras relações comerciais de proximidade, passando pelo retorno à noção de «comum». A questão da luta de classes volta, mas territorializada. Claro que isso é frequentemente perturbada pela ideia de localidade. A globalização impôs a oposição global-local e acreditou-se que bastava relocalizar para resolver o problema. Na realidade, a nossa terra distribui o local e o global de outro modo. Mas este esforço de designação, que compete aos partidos, não foi feito. Seria necessário que o ecologismo desse lugar  ao mesmo trabalho intelectual de que beneficiou o socialismo. Isto pressupõe uma aliança com os cientistas, com os movimentos de inovação social, mas também com aqueles a quem se atribui o nome de «populismo», os que aspiram a ser protegidos. Temos necessidade de proteção – Sloterdigk diz que nos faltam «bolhas» e «envelopes» -. A globalização quis fazer-nos sair de todos os envelopes, mas isso é mortal. A esquerda não deve falar de ambiente, mas de território e de classes geo-sociais, de proteção da tradição, de transmissão, de pertença.

 

 (Bruno Latour é um antropólogo, sociólogo e filósofo da ciência francês. Um dos fundadores dos chamados Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia.)




[1] Partido conservador polaco. (n. da trad.)
[2] Historiador das ciências.  Diretor de estudos na Escola de Altos Estudos  em Ciências Sociais (n. da trad.)