quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

«O JOVEM CONSERVADOR», poema de Eugénio Lisboa




No seu último livro, «poemas em tempo de peste», publicado em setembro do ano que agora termina, Eugénio Lisboa partilha conosco uma viagem que, sendo embora datada com precisão - de 31 de março do Ano da  Peste até 28.07.2020 (datas do 1º e último poemas) e tendo por tópico central a pandemia, "morde" com subtileza e ironia os "desmandos" da nossa conjuntura vivencial e dos seus protagonistas.
Dele retiro um retrato de "descaminhos" da substância "ser jovem". Um desconcerto da "idade política":


O JOVEM CONSERVADOR

Não há coisa mais ridícula
que ser jovem de direita:
a esse nem a clavícula
sequer se lhe aproveita.

Ser jovem e conservar
o que nem sequer se tem
é o mesmo que não usar
o vigor que é um bem!

Ser jovem e de direita
é grande contradição:
o jovem o futuro espreita,
a direita quer ramerrão!

Ser jovem conservador
é ser velho antes do tempo:
em vez de visar o alvor,
tropeçar num contratempo!

É cómico mas é triste:
o vigor da juventude
que pede calor e chiste,
reduzido a quietude!

                                10.05.2020

«Quando, pela primeira vez, em 1963, fui a Londres, vi um programa de televisão em que o alvo sistemático da chacota era o young conservative. O programa era incrivelemente cómico e certeiro. Nunca esqueci esses momentos desopilantes. Mas como o cómico pode ser também muito triste!» (Nota do poeta).