domingo, 7 de maio de 2017

EXISTE UMA ÉTICA UNIVERSAL?


É um facto: as normas morais divergem de cultura para cultura e o consenso não é maior no seio de uma mesma sociedade. Não é  o que confirmam os debates inflamados em torno do direito ao aborto ou sobre a pornografia? Isaiah Berlin não acredita na existência de um sistema único de valores capaz de federar todos os homens de todas as culturas. Jürgen Habermas quer ultrapassar a oposição entre universalismo (haverá uma só moral válida para todos?) e relativismo (todas as morais são aceitáveis?). Segundo ele, não se deve tentar definir a vida boa (que depende das escolhas preferenciais de cada um) mas as normas justas. Propõe, então, uma «ética da discussão», na qual “uma norma não pode pretender ser válida, se todas as pessoas envolvidas não estiverem de acordo (ou não puderem estar), enquanto participantes numa discussão prática sobre a validade dessa norma.” (Moral e Comunicação, 1999).
Numa outra perspetiva,  Michael Walzer propõe a distinção entre moral mínima (thin) e moral máxima (thick). As morais máximas correspondem às morais concretas, sistemas complexos e desenvolvidos, que são marcadas pela diversidade e pelo conflito, até. Mas é possível encontrar uma moral mínima, ou seja, uma moral comum, um núcleo de princípios que todos os seres humanos podem partilhar. É o que faz, por exemplo, com que, não obstante as divergências culturais,  um americano possa compreender um checo que, em 1989, se tenha manifestado em Praga, pela liberdade.
Resta que são as morais concretas – por vezes divergentes – as mais importantes e as interações entre as culturas permitiram, pouco  a pouco, estabelecer um “consenso por conciliação” (Morale minimale, morale maximale, 2004).
Qualquer que seja a opção acolhida, é claro que uma teoria moral pluralista, já que ela deve acolher conceções divergentes da vida boa, está obrigada a um alto grau de generalidade e a uma redefinição  dos limites da moral. É o que defende Ruwen Ogien ao propor uma “ética mínima”.

Catherine Halpern, in «Sciences Humaines», Hors-Série, nº 22, maio-junho, 2017)

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